Nos últimos anos, o TikTok deixou de ser apenas um app de vídeos curtos para se tornar um dos motores mais poderosos da indústria musical. Um refrão de 15 segundos pode transformar desconhecidos em astros globais praticamente da noite para o dia. Foi assim com Lil Nas X, que usou um trecho de “Old Town Road” em memes e danças antes de a faixa explodir nas paradas da Billboard. Também foi o caso de Olivia Rodrigo, cuja “drivers license” viralizou com milhões de vídeos emocionais, levando a artista ao topo do Spotify mundial em poucos dias. Diferente da lógica tradicional (rádio, TV e gravadoras), agora o público é quem decide o que estoura, e isso democratizou o acesso ao estrelato musical antes.
Essa revolução mudou até a forma de compor. Muitos artistas criam pensando diretamente no potencial viral de uma música, incluindo ganchos sonoros curtos, letras fáceis de decorar e trechos perfeitos para coreografias. Doja Cat, por exemplo, viu “Say So” explodir graças a uma dança criada por uma usuária do TikTok que se espalhou pelo mundo inteiro, antes mesmo de a música tocar nas rádios. No Brasil, Matuê e L7NNON também já surfaram trends para impulsionar lançamentos, enquanto artistas independentes como Jão e Bibi caíram no gosto do público com clipes adaptados ao formato vertical e refrões feitos sob medida para serem replicados em vídeos curtos. Se antes uma carreira precisava de anos de investimento, agora basta um bom gancho e uma trend criativa para abrir portas com grandes selos e contratos milionários.
Mais do que criar hits, o TikTok também ressuscita músicas antigas e dá nova vida a faixas esquecidas. Um exemplo foi “Running Up That Hill”, de Kate Bush, lançada em 1985 e que voltou às paradas quase 40 anos depois ao viralizar no TikTok por causa da série Stranger Things. A mesma coisa aconteceu com “Dreams” do Fleetwood Mac, que se tornou trilha de milhões de vídeos e fez a música voltar ao top 10 global. No Brasil, “Evidências” de Chitãozinho & Xororó já virou áudio de trends cômicas e alcançou públicos muito além do sertanejo. Esse fenômeno mostra como a plataforma mistura passado e presente no mesmo feed: qualquer som, pode renascer se um único vídeo cair no gosto do público.
Mas a fama instantânea também cobra um preço. Quando a atenção do público dura só 15 segundos, manter relevância a longo prazo vira um desafio. Muitos artistas que viralizam rapidamente desaparecem com a mesma velocidade, como Lil Huddy e Tai Verdes, que tiveram hits massivos no TikTok mas não conseguiram sustentar o hype em novos lançamentos. A pressão para repetir fórmulas virais pode engessar a criatividade e transformar artistas em reféns de tendências passageiras. Ainda assim, o TikTok segue sendo um dos poucos lugares onde um desconhecido pode competir com gigantes da indústria usando apenas um celular e uma ideia. É um palco caótico e imprevisível, onde qualquer um pode conquistar o mundo — se conseguir transformar 15 segundos de fama em uma carreira de verdade.