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Porque há tantos super heróis negros com super poder de raio!?

Ao longo das décadas, um padrão se destaca na cultura pop: a associação de personagens negros a poderes elétricos. Essa recorrência, presente em figuras como Black Lightning, Static Shock, Storm (dos X-Men) e Dee Jay (de Street Fighter), vai além de uma simples escolha estética. Ela se configura como um código, um "circuito simbólico" que reflete as percepções e expectativas da sociedade em relação à representatividade negra.

 

O pioneiro Black Lightning, criado por Tony Isabella em 1977 para a DC Comics, surgiu em um período marcado pela blaxploitation, mas transcendia esse movimento. Jefferson Pierce, um professor e atleta, era um herói comunitário que canalizava energia elétrica. Essa habilidade era uma manifestação literal e simbólica de força, um grito contra a opressão e uma forma de autoafirmação em um mundo que buscava neutralizá-lo. Sua presença era impactante, uma faísca que não podia ser ignorada. Anos mais tarde, Virgil Hawkins, o Static Shock, trouxe uma nova perspectiva. Ele era um adolescente nerd e skatista, um raio vivo que enfrentava questões como racismo, bullying e violência armada. Sua eletricidade, exibida em horário nobre, era um protesto animado contra as tentativas de apagá-lo.

Mas por que a eletricidade? Essa escolha não é meramente visual. O raio é uma metáfora poderosa, carregada de simbolismo. Ele representa energia acumulada e liberada, o medo do desconhecido e do incontrolável. O corpo negro eletrificado se torna, assim, um símbolo de potência e perigo, algo que se deseja utilizar, mas que se teme soltar completamente. Essa energia é celebrada quando útil, mas raramente compreendida em sua totalidade humana. Essa representação se manifesta em diversas mídias, de jogos a animações e filmes. O corpo negro é frequentemente associado ao ritmo, à força e à energia, elementos que impulsionam a narrativa, mas raramente à introspecção ou à calma. A eletricidade se torna espetáculo, e o personagem negro, um performer constante. Dee Jay dança e vibra, Storm controla os raios, mas precisa constantemente provar seu controle.


Embora essa imagem possa parecer poderosa à primeira vista, ela esconde nuances complexas. O corpo negro que brilha apenas quando eletrificado é o mesmo que não pode simplesmente existir. É valorizado pelo impacto e entretenimento que proporciona, mas não por sua mera humanidade.

A questão central não é se personagens negros com poderes elétricos são positivos ou negativos para a representatividade. A pergunta é: quem detém o controle da narrativa? Quem define os parâmetros? E quem arca com as consequências das representações? O que pode parecer uma simples coincidência pode ser um sintoma. O que pode parecer homenagem pode ser uma forma de controle disfarçada. E o que se apresenta como um mero raio no céu noturno pode, na verdade, ser o prenúncio de uma tempestade que transformará o panorama da cultura pop.

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