O breaking nasceu nas ruas do Bronx nos anos 1970 como uma forma de expressão artística, competição saudável e resistência cultural. Nas calçadas e festas de quarteirão, B-Boys e B-Girls criavam movimentos acrobáticos, spins e freezes ao som do funk e do hip-hop, improvisando batalhas que mais pareciam duelos de criatividade. Por muito tempo, o breaking foi visto como algo marginalizado, associado à cultura underground e aos guetos urbanos. Mas nos anos 2000, uma competição internacional começou a mudar esse panorama: o Red Bull BC One. Lançado em 2004, em Biel, na Suíça, o campeonato trouxe uma estrutura inédita ao mundo do breaking — palcos, jurados especializados, transmissões globais e patrocínios de peso. A Red Bull enxergou o potencial cultural e transformou uma prática de rua em um espetáculo profissional com alcance mundial. Desde então, o BC One se tornou referência, reunindo os melhores do planeta e elevando a dança a um novo patamar.
O formato do Red Bull BC One também foi inovador. Enquanto outras competições se baseavam em crews — grupos inteiros batalhando — o BC One focou no duelo individual, colocando B-Boys e B-Girls frente a frente em batalhas solo. Isso deu ainda mais destaque às personalidades e estilos de cada dançarino, criando verdadeiros ídolos da cena. Nomes como Lilou (França), Roxrite (EUA/México), Menno (Holanda) e Hong 10 (Coreia do Sul) se tornaram lendas vivas, seguidos como atletas profissionais. O Brasil também marcou presença, com Neguin (Curitiba) vencendo a edição de 2010 em Tóquio e colocando o país no mapa do breaking mundial. A cada edição, o evento foi crescendo em escala, passando por cidades como Nova York, Paris, Seul, Mumbai e Rio de Janeiro, sempre com a mesma energia: transformar a dança de rua em um espetáculo global, sem perder a essência de confronto e improviso que a originou.
O impacto do BC One foi além do entretenimento. O campeonato ajudou a consolidar o breaking como uma disciplina esportiva e cultural respeitada internacionalmente. Ao oferecer estrutura profissional, premiações e visibilidade midiática, o BC One deu aos B-Boys e B-Girls a possibilidade de viver da dança, algo impensável para muitos nas décadas anteriores. Além disso, a Red Bull criou as chamadas cyphers — seletivas regionais realizadas em dezenas de países, incluindo o Brasil, que servem como classificatórias para a grande final mundial. Isso democratizou o acesso à competição e fortaleceu a cena local em diversos lugares, permitindo que novos talentos surgissem e tivessem a chance de competir no maior palco do mundo. O campeonato também ajudou a estabelecer critérios técnicos de avaliação — musicalidade, originalidade, execução, dificuldade e presença de palco — transformando a arte em algo que podia ser julgado com parâmetros claros, um passo fundamental para que o breaking chegasse até os Jogos Olímpicos de Paris 2024..
Duas décadas depois de sua criação, o Red Bull BC One é considerado o torneio mais prestigiado do breaking, responsável por moldar carreiras e criar uma rede global de dançarinos. Mais do que uma competição, ele é uma vitrine da cultura hip-hop, com DJs, MCs e elementos visuais que celebram a autenticidade das batalhas. Para muitos, o BC One representa o ponto de virada em que o breaking deixou de ser apenas uma expressão das ruas e passou a ocupar os palcos mais importantes do mundo, sem perder seu DNA rebelde e criativo. Ao mesmo tempo em que profissionalizou a cena, o campeonato manteve viva a essência do improviso, da energia coletiva e do respeito entre dançarinos. Hoje, ao olhar para a trajetória do breaking até se tornar esporte olímpico, é impossível não reconhecer o papel central do Red Bull BC One nessa transformação. Foi ele quem deu estrutura, projeção e status global a um movimento que nasceu na rua e continua a redefinir o que significa dançar em batalha.